As abelhas são pequenas em tamanho, mas de uma importância tão grande para o meio ambiente. Para se ter uma ideia de sua representatividade, cientistas mapearam mais de 20 mil espécies conhecidas. Segundo o subcoordenador do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e especialista em Entomologia, Andreas Kohler, as abelhas são elementos essenciais para a natureza, por conta da função polinizadora e, com isso, são responsáveis por quase toda a produção agrícola. “Qualquer fruta, semente que precisamos para nossa alimentação e para reprodução da natureza, as abelhas são indispensáveis”.
A abelha mais popular é a Apis mellifera (conhecida entre outros nomes como melífera, europeia, africanizada, do mel). Esta abelha com ferrão, de origem europeia e levada à África para aclimatizá-la ao clima quente, foi depois trazida ao Brasil, onde hoje a encontramos nas diferentes regiões. Mas, neste especial, iremos abordar as abelhas que pertencem à tribo Meliponini, conhecidas popularmente, como abelhas sem ferrão. Conforme o professor, já são mais de 300 espécies catalogadas na América do Sul. No Rio Grande do Sul encontram-se pelo menos 24 espécies nativas.
Mesmo tendo seu ferrão atrofiado, são também importantes polinizadoras. Sobretudo, nos últimos anos, estão sendo evidenciadas em estudos e vêm ganhando novos espaços em ambientes rurais e nas zonas urbanas, como ocorre em nossa região, através da meliponicultura (a criação racional de abelhas sem ferrão).
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Entre os meliponicultores está o jovem Samuel Augusto Pfeifer, 27 anos, de Linha do Salso, interior de Candelária. Há cerca de seis anos ele começou a estruturar colmeias, mas foi há três anos que passou a focar com mais ênfase na criação. Na propriedade da família se encontram hoje mais de 130 colmeias de sete espécies: jataí, mirim-guaçu, mirim-droryana, mirim-nigriceps, manduri, tubuna e mandaguarí.
De acordo com ele, a grande diferença das abelhas sem ferrão se encontra, principalmente, na facilidade do manejo e no fato de poder tê-las em casa, no próprio jardim, uma vez que não apresentam riscos. “Conseguimos manuseá-las sem nenhum equipamento, sem nenhuma proteção”, pontuou.
O despertar para o assunto aconteceu de forma espontânea na vida do jovem, a partir de um enxame antigo instalado em casa. “Por conta dele comecei a cuidar, trocar de caixa e ali surgiu a paixão pelas abelhas”, enfatizou Samuel que se mostra orgulhoso do cuidado com os insetos.
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Cada espécie, segundo o meliponicultor, possui um tempo de vida diferente. A jataí, da qual extrai o mel, vive em média 40 a 50 dias na época de produção. No inverno, quando costuma diminuir o ritmo, o tempo de vida pode alcançar até 100 dias. É dentro de cada caixa, uma ‘casa’ construída especialmente para cada espécie, que o jovem separa o ninho do mel.
A colheita é realizada entre dezembro e fevereiro. No restante do ano, a produção é para o próprio sustento das abelhas. “A parte superior da caixa, onde fica o mel, é retirada durante à noite, colocado de ponta cabeça e feito alguns furinhos nos potes para deixar escorrer até de manhã, quando é reposta esta parte da caixa para elas darem continuidade à produção”, contou.
Encontramos ainda na propriedade, um bombom de pólen, que além do ingrediente base, utiliza-se de cera quente derretida para fazer uma camada que envolva o mel para após ser servido às abelhas em épocas de escassez ou para enxames que foram multiplicados recentemente. Todavia, Samuel faz questão de ressaltar que as abelhas vão muito além da produção do mel, exercendo um serviço fora da caixa, o principal deles, de polinização. “É um prazer lidar com abelhas, é algo sem explicação, uma sensação muito boa de poder trabalhar com elas”.
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Ainda, segundo Pfeifer, os enxames não são retirados por completo de seu habitat natural. “Após colocarmos ninhos-iscas e capturarmos, elas ficam na natureza por uns 30 a 60 dias. Quando alcançam o peso de aproximadamente um quilo é que se pode movê-la, durante a noite, trazendo para o ambiente onde ficarão, mas mantendo na isca por mais uns 15 a 20 dias. Aí sim, realizando um reconhecimento do novo local, pode ser feita a transferência para a caixa, onde recebem um acompanhamento semanal para ver se está ocorrendo tudo certo, se não há problemas com formigas ou algo assim, e depois elas se viram por conta”.
Conforme o biólogo Andreas Kohler, a diminuição do número de abelhas na natureza, o que temos visto com maior evidência nos últimos anos, tem ocorrido, entre outros múltiplos fatores, devido ao aumento do uso de agrotóxicos. “Tendo em vista que as abelhas sobrevoam áreas de plantação para coletar pólen e néctar, a possibilidade de entrar em contato com agrotóxicos é muita alta. Ou seja, qualquer veneno colocado em uma flor, na vegetação, elas coletam, levam até o ninho e, por isso, os agrotóxicos e toda poluição estão levando à extinção das nossas abelhas. Por este fator, hoje muitas abelhas já estão na lista de espécies ameaçadas de extinção”, salientou o especialista.
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Segundo o meliponicultor Samuel, outro fator que soma-se a isso é a falta de informação. “Muita gente acaba matando por não saber que se tratam de abelhas ou simplesmente por não as cuidar”, reforçou. Para o jovem que tem raízes na zona rural, mas hoje passa boa parte do tempo trabalhando na construção civil, poder retornar ao campo aos fins de semana e dedicar-se às abelhas é motivo de alegria e compromisso. “Quanto mais árvores e flores, quanto mais vida tiver, melhor as abelhas irão se desenvolver”, acrescentou.
Na propriedade dos Pfeifer a plantação de palmeira-real também tem contribuído neste sentido. “Estamos deixando as palmeiras principalmente para darem flores que contribuem no pólen necessário às abelhas”.
Samuel se coloca à disposição para quem quiser saber mais sobre as abelhas sem ferrão ou adquirir mel, ninhos-iscas, caixas, entre outros. O contato é (51) 99530-5812.
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Na cidade
O policial militar natural de Santa Maria, mas radicado em Sobradinho, Márcio Pires da Costa, aprofundou seu conhecimento no universo das abelhas quando participou de um curso promovido pelo Exército em 2005. Por se tratar do cuidado com abelhas com ferrão, sem ter espaço adequado para criá-las, o policial guardou os conhecimentos para usá-los em uma oportunidade futura. Foi quando, tempo depois, descobriu as abelhas sem ferrão e que estas poderiam ficar em espaços urbanos, convivendo com animais e crianças.
Dali em diante passou a buscar mais informações e iniciou a criação, por hobby, no jardim de casa, na cidade. “É uma distração pra gente vir aqui, ver elas se movimentando, produzindo o mel tão benéfico à saúde”, salienta Costa, reforçando que o cuidado com a natureza ganha ainda mais evidência sabendo dos nutrientes que elas necessitam e do quanto contribuem para o meio ambiente. “Quando olhamos em volta vemos a quantidade de flores e frutas beneficiadas”, contou ele que possui duas colmeias, sendo uma de jataí e outra de mandaguarí.
Por intermédio de um amigo, recentemente Costa foi acionado para atender um enxame em caixa de lenha. “O proprietário do local abriu a caixa para usar no inverno, encontrou o enxame e se assustou, não sabendo de qual inseto se travava. Um amigo em comum falou à ele que eram abelhas sem ferrão e me contatou. Ao chegar na propriedade, conseguimos resgatá-las e as colocamos em uma caixa, seguras, estando agora em um novo local. Se elas saíssem daquele ambiente onde estavam, meio que expulsas, provavelmente não sobreviveriam, especialmente no frio”, relatou. “Com as pessoas conhecendo mais sobre as abelhas, é possível que aumente o número de interessados em criá-las. São poucos os cuidados específicos”, reforçou.
Conforme o professor Andreas Kohler, o cuidado principal que se deve ter é com a escolha do local onde ficarão as caixas, que tenham condições adequadas durante todo o ano. “As abelhas não gostam nem de muito frio, nem de muito calor”. Além disso, devem estar próximas de árvores e flores.
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