Um dos passatempos divertidos nas visitas à minha mãe, em Arroio do Meio, era correr ao armário para buscar caixas de sapato e de camisa lotadas de fotos. Há quase três anos ela nos deixou, mas com frequência recordo do pós-almoço, quando esparramávamos as imagens no sofá da sala.
Quando a dona Gerti Jasper partiu, eu e minha irmã dividimos as fotos para curtir individualmente o passado. As máquinas fotográficas populares da minha infância/adolescência possuíam poucos recursos. Equipamentos mais sofisticados tinham preços proibitivos. Muitos registros foram marcados pela baixa qualidade, quase sempre com fotos “tremidas”
Nasci na colônia no (hoje) Bairro Bela Vista, em Arroio do Meio, com ruas sem pavimentação que usávamos para ir a pé à escola. Lá, o hábito de fotografar era o coroamento de festividades ou eventos especiais, como aniversários, casamentos e grandes encontros familiares em geral. Eram datas cercadas de muita excitação por parte dos envolvidos.
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Os flagrantes feitos de maneira informal eram raros. Os personagens se preparavam com esmero para o grande momento. Mulheres ajeitavam o cabelo, homens penteavam os bigodes, crianças eram proibidas de piscar e as roupas eram minuciosamente examinadas.
Cumprido o ritual da feitura da foto – encerrado com uma grande salva de palavras e um “gritedo” geral –, outro momento de grande expectativa era o período entre a entrega do filme na loja, a revelação e a entrega do envelope com as imagens. Eram longos dias de espera encurtados com o tempo pelos avanços tecnológicos.
Já na adolescência, a ansiedade levava a comprar “filmes com 36 poses”. Por vezes, motivos bizarros ou desinteressantes eram alvos da foto… “só para terminar filme”. Não raro também se via pessoas com a cabeça ou os pés “cortados”, resultado da pressa ou dos movimento brusco dos personagens retratados.
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Hoje, fotografar virou rotina, especialmente entre os jovens. Ao mesmo tempo que nunca se fotografou tanto, jamais revimos tão pouco os registros. Carregamos milhares de fotos no celular ou computador, mas raramente curtimos o momento registrado.
Antigamente a expressão “ficar bem na foto” fazia jus ao significado literal. Prova disso é que as boas imagens eram eternizadas em vistosos porta-retratos, alguns pesados, de vidro, com molduras trabalhadas.
Eram tão preciosos que serviam como objetos de decoração exibidos na sala ou logo na entrada da casa como gesto de boasvindas às visitas. Como tantas outras lembranças, ao longo do tempo as fotos foram banalizadas, perderam o encanto. Muitos hábitos antigos foram subvertidos pela “informalidade” que invadiu nossas vidas.
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